quinta-feira, 27 de agosto de 2015

SPEA discorda de intervenções em área protegida das Lajes do Pico

A instalação de uma tenda, para as festas da Semana dos Baleeiros nas Lajes do Pico, em plena área protegida para as aves, causa grande preocupação para a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) devido aos impactos causados num ecossistema único e já bastante fragilizado. A SPEA enviou na passada terça-feira uma carta à Câmara Municipal das Lajes do Pico, que está a realizar a intervenção, apontando os vários aspectos que considera estarem a prejudicar este importante valor natural da ilha do Pico e dos Açores.

Na carta enviada, também com conhecimento para as Direções Regionais do Ambiente e dos Assuntos do Mar, a SPEA refere a importância do local a nível regional, nacional e europeu, que levou à sua inclusão nas redes de áreas importantes para as aves, parques naturais e Rede Natura 2000.


(Direitos Reservados - foto de Serge Vialleille)


A área tem um fácil acesso e elevada vulnerabilidade, especialmente devido à forte pressão urbanística e humana a que está sujeita. No entender da associação, deverá ser preservada na sua totalidade e, pelo menos, recuperados, o mais rápido possível, os locais dentro da área que num passado recente foram degradados ou destruídos, de modo a aumentar a resistência destes habitats naturais à perturbação que possa ocorrer. Também deverão ser implementadas medidas de salvaguarda da área impedindo a sua degradação e reduzindo os impactos sobre a fauna e flora.

Este é um sítio de importância para várias espécies de aves, tanto para as nidificantes como para as migratórias. As aves que nidificam nas zonas costeiras adjacentes, nomeadamente Calonectris borealis (cagarro), Sterna dougallii (garajau-rosado), Sterna hirundo (garajau-comum), usam esta área como zona de repouso e alimentação. No outono e inverno, esta área representa um ponto de passagem e descanso de aves migratórias e acidentais, provenientes dos continentes europeu e americano, sendo importante no contexto regional para diversas espécies de limícolas, patos e garças durante a época de migração pós-nupcial (a qual começa em Julho para algumas espécies de limícolas) e ao longo da época de invernada.


A Plataforma das Lajes do Pico é o maior spot para a observação de raridades na ilha do Pico (http://azores.avesdeportugal.info/)



Em resultado do seu valor para as aves e características naturais únicas esta área está classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE) (http://www.horta.uac.pt/projectos/macmar/ogamp/azpepico3.html) incluída na Rede Natura 2000 (http://natura2000.eea.europa.eu/Natura2000/SDF.aspx?site=PTZPE0024) e na rede de IBAs nacionais (Zonas importantes para as Aves -http://ibas-terrestres.spea.pt/pt/mapa-ibas-terrestres/). Faz igualmente parte do Parque Natural de Ilha do Pico com a classificação de Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies das Lajes do Pico (PICO07), constituindo parte importante de uma rede de zonas de protecção nos Açores que inclui importantes comunidades de aves.

A SPEA refere ainda que para além da importância para as aves, esta área apresenta também outras espécies e habitats de elevada relevância (uma das razões para ser importante em termos de avifauna) sendo as suas características únicas no contexto regional e mesmo macaronésico. Neste local encontram-se comunidades de flora extremamente vulneráveis e de difícil recuperação como é o caso da Spergularia azorica e de Juncus sp. por esta razão, esta área está também classificada como Sítio de Interesse de Conservação (SIC) também integrado na Rede Natura 2000 (http://natura2000.eea.europa.eu/Natura2000/SDF.aspx?site=PTPIC0011). São habitats propícios ao desenvolvimento de espécies vegetais protegidas costeiras de valor natural e interpretativo elevado.

Para Luis Costa, Director executivo da SPEA, “a importância desta área deveria ser aproveitada pelo município das Lajes do Pico como uma mais-valia e não como um obstáculo ao seu desenvolvimento. Se os valores naturais podem ser por vezes mal compreendidos pela população, é essencial um trabalho de sensibilização a vários níveis para reverter essa situação”. Mesmo a nível económico, a recuperação e conservação deste local poderá ser mais um motivo de visita para o município e contribuirá na promoção de uma imagem de sustentabilidade para quem nos visita, capitalizando a imagem de Natureza associada ao Pico e aos Açores em geral. A ocorrência durante o Inverno de aves pouco comuns na Europa é já um atrativo para muitos observadores de aves que se deslocam aos Açores.

Para a SPEA, sendo a Semana dos Baleeiros um evento que celebra uma atividade tão importante para o concelho, e que tem sido apontado como exemplo de passagem de uma atividade de grande impacto, como a caça à baleia, para uma atividade de maior sustentabilidade ambiental com a sua observação, esta seria uma ocasião excelente para promover um trabalho de sensibilização e divulgação deste outro valor das Lajes do Pico, quer junto da população local quer junto dos muito visitantes que aí ocorrem nesta semana.

Porém, parece que a opção foi desvalorizar a componente natural única do local em favor de uma componente das festas completamente vulgar, sem tradição, que se pode encontrar por múltiplos locais em todo o país nesta altura do ano, e que poderia ser localizada em outros locais onde não tivesse o mesmo impacto.

Refere na carta Luis Costa que “por 3 dias de utilização que ninguém se lembrará ao fim de muito pouco tempo, opta-se por aumentar o impacto numa zona sensível de características únicas na ilha e na Região, dificultando cada vez mais a sua recuperação e adiando o trabalho urgente de sensibilização de quem utiliza ou pretende utilizar aquela área para fins contrários à manutenção dos seus valores naturais”.

Tendo em conta o referido a SPEA solicitou à CMLP:
- a mudança do evento previsto para outra área e a imediata minimização dos impactos causados;
- a garantia de salvaguarda desta área de eventuais planos futuros que possam aumentar a sua degradação;
- o desenvolvimento e implementação de um plano de recuperação destes habitats, com maior urgência nas áreas degradadas por ação humana nos últimos anos.

A SPEA indicou ainda a total disponibilidade para, dentro das suas capacidades, colaborar da melhor forma possível na identificação de medidas que possam permitir não só a conservação e recuperação desta importante área, mas também contribuir para a sua divulgação e promoção, bem como para o usufruto deste local pela população e visitantes de uma forma sustentável e sem impactos para os importantes valores naturais presentes.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

LIFE+ Terras do Priolo testa técnicas de engenharia biofísica

As características geomorfológicas dos solos, os relevos acidentados e os elevados regimes de chuvas são algumas das características que levam a que as áreas de montanha da Zona de Proteção Especial Pico da Vara/Ribeira do Guilherme, à semelhança do que se passa um pouco por todas as ilhas dos Açores, sejam muito vulneráveis à ocorrência de situações de erosão e à existência de derrocadas.

Estas ocorrências tem vindo a ser agravadas pela expansão da vegetação exótica invasora. As características biofísicas destas plantas, nomeadamente o seu sistema radicular superficial, o rápido crescimento e o seu grande desenvolvimento apical leva à acumulação de grandes volumes de biomassa, o que associado aos fatores acima descritos aumenta exponencialmente a probabilidade de ocorrência de deslizamentos de terras com consequências para o património natural (destruição de plantas e/ou animais, abertura de espaços para invasão por exóticas, etc). Para além disso acresce os riscos para as populações humanas, como atestam as catástrofes naturais ao longo dos anos nos dois concelhos onde a ZPE está localizada, Povoação e Nordeste.

À esquerda, o talude antes da intervenção e à direita após a construção do muro vivo

Por forma a limitar e reverter estes processos, estão ser desenvolvidos testes com base nas técnicas de engenharia biofísica que visam não só diminuir os impactes da erosão hídrica superficial no solo através da sua consolidação, mas ao mesmo tempo uma requalificação ambiental através de espécies nativas dos Açores, no sentido de recuperar os habitats naturais existentes nestas áreas. 

As técnicas aplicadas baseiam-se em duas ideias fundamentais: a utilização de materiais vivos, pelas suas características funcionais, e no reaproveitamento do material florestal, resultante da erradicação das plantas exóticas lenhosas, na construção de estruturas. Em alguns casos é necessário o uso de pedra de diferentes dimensões para consolidação de áreas mais sensíveis. 



A utilização de plantas vivas ou de partes destas aquando das intervenções é fulcral, na medida em que as espécies vegetais são os primeiros materiais de “edificação” da natureza. Procura-se utilizar e combinar da melhor maneira as suas potencialidades radiculares, de forma a realizar obras capazes de resistir a fortes estímulos físicos, integrando-se perfeitamente na paisagem e desempenhando um papel ecológico indispensável. 

Esta ação preparatória do projeto LIFE+ Terras do Priolo, pretende dar resposta a estes desafios sendo que em simultâneo recuperam uma pequena área na zona de Mata dos Bispos (inserida no Parque Natural de Ilha) onde estão a ser aplicadas diferentes técnicas: muro vivo, grade viva, aplicação de geotêxtil e hidrosementeira e drenagem biotécnica.

           À esquerda o talude antes da intervenção e à direita após a construção da grade viva

Tal como mostram as fotografias, as estruturas geotécnicas estão finalizadas estando a faltar apenas a aplicação da hidrosementeira e plantação que será realizada durante o próximo outono / inverno e suportará a finalização da reabilitação do talude nesta área.




Aproveitamos para agradecer a todas as entidades envolvidas nesta ação, nomeadamente à Secretaria Regional de Turismo e Transportes, em especial ao departamento de Sistemas de Informação Geográfica de Ponta Delgada pelo levantamento topográfico realizado, à Câmara Municipal do Nordeste pela cedência de material de construção e equipamentos e aos Serviços Florestais do Nordeste pela cedência de parte da  madeira utilizada para a construção das estruturas.

SPEA realizou passeio ao Pico da Vara

No passado dia 8 de Agosto, a equipa da SPEA, através do Centro Ambiental do Priolo e do programa de Ciência Viva no Verão, promoveu uma subida ao Pico da Vara, que contou com a participação de 23 pessoas de diferentes idades e nacionalidades.

O Pico da Vara está localizado no concelho de Nordeste e encontra-se integrado na Reserva Natural do Pico da Vara, pertencente ao Parque Natural da Ilha de São Miguel. Este é o ponto mais alto da Ilha de São Miguel com 1104 metros.


O percurso teve inicio no Planalto dos Graminhais, onde os participantes puderam observar os trabalhos de recuperação deste habitat húmido, levados a cabo pela SPEA e parceiros no âmbito do projeto LIFE+ Laurissilva Sustentável e que continuam no atual projeto LIFE+Terras do Priolo. A partir dos Graminhais, o trilho tem uma extensão de 3,3 km até ao cume, com uma inclinação pouco acentuada, o que o torna acessível a todo tipo de público. A descida foi feita pelo trilho PR7SMI com saída na Algarvia e com a extensão de 3,4 km.

Durante este passeio a técnica da SPEA responsavel pela atividade, Lourdes Peñil, mostrou aos participantes os diferentes tipos de habitats, como as turfeiras do género Sphagnum (musgão), destacando a sua importância na regulação e recarga do ciclo da água do Planalto dos Graminhais que abastece as nascentes de diversas freguesias dos concelhos de Nordeste e Povoação. 

Para além disso, foram vistos alguns matos de cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) típicos de zonas de montanha, assim como outras espécies de flora endémica como uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), azevinho (Ilex azorica) e patalugo (Leontondon rigens), entre outros. 


A SPEA agradece a todos pela participação nesta atividade e pelo interesse demonstrado, e esperamos contar com a vossa participação já nas próximas atividades.


Seguimento dos cagarros do Ilheu de Vila Franca do Campo

No âmbito dos trabalhos de monitorização da colónia de cagarros do Ilhéu de Vila Franca do Campo, foi realizada mais uma ação pelos técnicos da SPEA destinada a obter mais dados sobre o sucesso reprodutor desta espécie. Foram marcados e monitorizados 35 ninhos para um seguimento regular até ao final da presente época de reprodução e nos próximos anos.


Estes ninhos foram escolhidos de acordo com diversas características como a facilidade de monitorização (tamanho da galeria) e a localização. Foram recolhidos dados como a existência de ovo ou cria, ou a presença de aves adultas. Sempre que possível foram anilhados os adultos destes ninhos. Com este trabalho pretende-se criar um conjunto de ninhos para obter informação sistemática ao longo dos anos. Esta informação vem complementar o conhecimento já existente sobre esta colónia obtido desde o início dos trabalhos de conservação em 2009.


Foram observadas várias crias e ainda, embora em número já muito reduzido, alguns ninhos ainda com ovo. Para além dos adultos que foram anilhados, será feito um esforço para anilhar também as crias quando estas estiverem mais desenvolvidas. Com este trabalho de marcação será possível saber ao longo do tempo informações importantes sobre o estado desta colónia como por exemplo o sucesso reprodutor ou a sobrevivência dos juvenis.


Para além do trabalho de monitorização, foi também realizada uma atividade de divulgação sobre o ilhéu, no âmbito do programa Biologia no Verão. Os participantes ficaram a saber um pouco mais não só sobre o valor natural desta área pertencente ao Parque Natural de ilha de São Miguel, mas também sobre o seu valor histórico e cultural. Uma outra ação que teria como objectivo levar os participantes a colaborar no trabalho de monitorização teve infelizmente de ser cancelada devido às condições meteorológicas. No entanto ainda estão previstas mais atividades. 

Os interessados devem consultar o site do Ciência Viva ou do Centro Ambiental do Priolo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

SOS Estapagado 2015


No dia 11, na ilha do Corvo, a nossa colega Julie salvou um juvenil de estapagado Puffinus puffinus que se desorientou com a iluminação pública. O Estapagado é um procellariforme que nidifica nas costas do Atlântico Norte, desde o Reino Unido, Irlanda, Canadá, EUA, Madeira, Canárias e nos Açores.  Reproduzem-se de Maio a Setembro e os seus juvenis começam a abandonar os ninhos por volta da 1ª e 2ª semana de Agosto. A população açoriana nidificante restringe-se às ilhas do Corvo e das Flores e ronda os 200 casais. No Inverno fazem uma migração transequatorial até às costas atlânticas da América do Sul e do sudoeste da África do Sul. Depois de devidamente anilhado e as suas medidas retiradas, o juvenil foi liberto e mergulhou no mar para terras mais quentes.


Estejam atentos se observarem por aí esta pequena ave com plumagem preta da cabeça até debaixo do olho, asas pontiagudas e "prima" do Cagarro Calonectris borealis, não hesitem em contactar, a equipa do SOS Estapagado está de serviço!




quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Soldadinho-do-Araripe visita o Priolo

Weber Girão e Karina Linhares da Aquasis, ONG de Ambiente do Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, estão a visitar o projeto LIFE + Terras do Priolo  com o objetivo de partilhar de experiências e desenvolver parcerias ao nível da conservação da natureza e o desenvolvimento de modelos de turismo de natureza para áreas naturais.


Com efeito a Aquasis desenvolve um projeto de conservação para uma ave, o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), espécie Criticamente em Perigo de extinção global restando apenas 279 casais no seu habitat natural, a florestal tropical do Ceará da qual já só restam 31 Km2. Esta é infelizmente uma história muito semelhante à do priolo, e que todos esperamos que possa ser também um caso de sucesso como aconteceu aqui em São Miguel.

Para ver mais informações sobre a Aquasis e sobre o soldadinho-do-araripe visite o site da AQUASIS